Fristtram Helder Fernandes

Fristtram

Fristtram Helder Fernandes

Aluno de Ciências da Computação na UFSC

Internacionalização é, também, receber alunos de fora. E foi dessa forma que Fristtram Helder Fernandes, 29 anos, veio da Guiné-Bissau, país da porção ocidental da África, estudar Ciências da Computação na UFSC em 2010. O acadêmico veio através do Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G), que oferece oportunidades de formação superior a cidadãos de países em desenvolvimento com os quais o Brasil mantém acordos educacionais e culturais.

Fristtram chegou cheio de entusiasmo para estudar, acreditando na imagem do Brasil mostrada em seu país. “A impressão era ótima, a mídia mostra um Brasil idealizado. Um país acolhedor, caloroso e festeiro.” Entretanto, desde o início, encontrou barreiras, incluindo o racismo. “A integração à comunidade nunca foi fácil. A Sinter [Secretaria de Relações Internacionais] tem um programa de apadrinhamento, mas não tive um padrinho, parece mais fácil para os europeus. Senti falta de ser acolhido e de ter um acompanhamento”, comenta o estudante.

Os problemas de integração atrapalharam a vida de Fristtram no Brasil, mas ele ficou muito satisfeito com sua vivência acadêmica na UFSC. “Superou as minhas expectativas. O curso é muito bom, com professores capacitados, que ensinam com muita seriedade.” De acordo com ele, sua área é incipiente na Guiné-Bissau e, assim que possível, pretende retornar. “É uma coisa nova lá, quase não existe. Quero voltar e ajudar no futuro do meu país. Mas para chegar lá e propor algo novo, vou precisar de um tempo no mercado de trabalho, um ano ou dois”, explica, lembrando que a Universidade não pode proporcionar plenamente esta experiência. Quando voltar, pretende atuar na universidade local, como multiplicador do seu aprendizado no Brasil.

Na Guiné-Bissau, conta Fristtram, “para fazer amigo, não precisa estudar junto desde criança no mesmo colégio, basta parar e conversar. Lá se faz amizade muito fácil, na parada de ônibus, na fila do banco, em qualquer lugar”. No Brasil, ele não esperava encontrar racismo, mas algumas experiências na UFSC marcaram Fristtram. “Combinei com colegas de estudar Cálculo na biblioteca. Quando cheguei, eles já estavam lá. Mas no momento em que me sentei, todos se levantaram para jogar sinuca. Não sei se me esquecerei disso.”

Ele enfrentou problemas, largou o PEC-G, mas voltou a estudar na UFSC pelo Vestibular. No meio de tudo isto, fez amizade com um colega brasileiro, de Campinas, que o ajudou a enfrentar as dificuldades inerentes aos estudos. “Fizemos vários trabalhos juntos, ficávamos isolados, foi muito complicado, Mas seguimos trabalhando e hoje estamos montando uma startup.”

Fora da UFSC, morou em vários lugares e fez muitos amigos, incluindo conterrâneos da Guiné-Bissau, com quem participa da Associação de Estudantes Guineenses no Estado de Santa Catarina. “Estão todos longe de casa e cada um que chega precisa se virar sozinho. A gente vive fazendo festas e ajuda os colegas a se integrar na vida social.” Até assim, enfrentou novas situações de racismo ao postar uma festa do Dia da África num grupo de estudantes da UFSC. “Começaram a marcar amigos e perguntar se iriam na Festa do Ebola.” Ele diz que não buscou o Poder Judiciário porque seria desgastante e tiraria o foco dos estudos.

Longe de casa, as experiências de Fristtram o fizeram crescer e amadurecer, não só como acadêmico, mas como pessoa. “Viver e evoluir fora do conforto do lar, em outro tipo de sociedade e com outras formas de ver a vida, deixam a gente mais forte, maduro e criativo”.